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Segunda-feira, 28 de Janeiro de 2008

Um abrigo

Voltei a entrar numa fabrica abandonada que descobri um destes dias, já lá tinha estado antes, mas meio á pressa com receio de ser apanhado por algum segurança ou algo do género. Desta vez fui directo ao sitio onde tinha ficado na ultima visita ao local ... existem uma série de divisões enormes todas vazias, á excepção de uma, e qual nao foi o meu espanto quando ao empurrar a porta me deparei com este triste e decadente cenário ... devo confessar que não tinha pensado muito nisto, é claro que imaginava que pessoas fossem a este sitio, havia sinais disso, mas nao esperava nada assim, compreendi que o sitio fica vazio durante o dia mas de noite é habitado por gente há procura de um abrigo. Não consigo descrever muito bem a sensação que me invadiu no momento em que entrei ali, um misto de mal estar, medo e mais coisas para as quais nem tenho nome... 

Ali, naquele sitio, entre centenas de pacotes de vinho vazios... entre milhares de beatas de cigarros, entre estranhos recipientes brancos que parecem ser de comida ... entre todo o lixo que possam imaginar... há colchões onde durante as noites dormem pessoas, seres humanos como os restantes de nós. Mais uma vez me veio  á cabeça o pensamento de sempre, que problemas tenho eu ... comparando com a vida desta gente. Mas não pensei muito nisto, a sensação de desconforto foi-se tornando maior e tinha que sair dali, uma sensação de estar a invadir a casa de alguém sem pedir licença mas mesmo assim fotografei. Percebi que mudavam os colchões de sitio de tempos a tempos depois de ver os contornos rectangulares feitos a lixo no chão no sitio onde se encontravam antes. Sacos de pão ainda por abrir mas já bolorentos ... garrafas, sapatos, roupa ... latas e aqueles estranhos recipientes brancos ... por todo o lado.

Tive que sair dali e foi só depois de ter visto aquele cenário macabro mas bem real, que percebi que podia mesmo encontrar alguém ali, alguém que não gostasse de me ver ... ou alguém perigoso ou que simplesmente nao me quisesse lá..., inconscientemente dei comigo a evitar fazer barulho, cheguei a caminhar em bicos de pés para não fazer ruido ao pisar os vidros espalhados pelo chão. Não consegui deixar de olhar em volta, senti-me observado ... mas quase de certeza nao havia ali ninguem a não ser eu ... era apenas mais uma sensação. Saí com cuidado e já de longe á luz dos ultimos raios de sol ... olhei para aquela fábrica abandonada transformada em abrigo de gente que não o tem. Por não se querer ver uma coisa ou pessoa ela não desaparece ... continua a existir.

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 vinho


comida


colchões


beatas


espaço


colchão


guarda-chuva


colchão


colchão


contorno

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