Na margem verde da estrada
Os malmequeres são meus.
Já trago a alma cansada -
Não é de si: é de Deus.
Se Deus me quisesse dá-la
Havia de achar maneira…
A estrada de cá da vala
Tem malmequeres à beira.
Se os quer, colho-os, e tenho
Cuidado com os partir.
Cada um que vejo e apanho
Dá um estalinho ao sair.
São malmequeres aos molhos,
Igualzinhos para ver.
E nem põe neles os olhos,
Dá a mão pra os receber.
Não é esmola que envergonhe,
Nem coisa dada sem mais,
É pra que a menina os ponha
Onde o peito faz sinais.
Tirei-os do campo ao lado
Para a menina os trazer…
E nem me mostra o agrado
De um olhar para me ver…
É assim a minha sina.
Tirei-os de onde iam bem,
Só para os dar à menina -
E agradeceu-me a ninguém.
Fernando Pessoa
Ajuda
Soc. Portuguesa de Suicidologia
Inst. da Droga e da Toxicodependência
Fotografia
Blogs
As palavras que nunca te direi
Música
Solidariedade
Ambiente